Letras
Rebenta na febem rebelião
Um vem com um refém e um facão
A mãe aflita grita logo "não!"
E gruda as mãos na grade do portão
Um vem com um refém e um facão
A mãe aflita grita logo "não!"
E gruda as mãos na grade do portão
Aqui no caos total do cú do mundo cão
Tal a pobreza, tal a podridão
Que assim nosso destino e direção
São um enigma, uma interrogação
Tal a pobreza, tal a podridão
Que assim nosso destino e direção
São um enigma, uma interrogação
Ecos do ão
E, se nos cabe apenas decepção
Colapso, lapso, rapto, corrupção
E mais desgraça, mais degradação
Concentração, má distribuição
Colapso, lapso, rapto, corrupção
E mais desgraça, mais degradação
Concentração, má distribuição
Então a nossa contribuição
Não é senão canção, consolação
Não haverá então mais solução
Não, não, não, não, não
Não é senão canção, consolação
Não haverá então mais solução
Não, não, não, não, não
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Pra transcender a densa dimensão
Da mágoa imensa então, somente então
Passar além da dor da condição
De inferno e céu nossa contradição
Da mágoa imensa então, somente então
Passar além da dor da condição
De inferno e céu nossa contradição
Nós temos que fazer com precisão
Entre o projeto e sonho, a distinção
Para sonhar enfim sem ilusão
O sonho luminoso da razão
Entre o projeto e sonho, a distinção
Para sonhar enfim sem ilusão
O sonho luminoso da razão
Ecos do ão
E se nos cabe só humilhação
Impossibilidade de ascensão
Um sentimento de desilusão
E fantasias de compensação
Impossibilidade de ascensão
Um sentimento de desilusão
E fantasias de compensação
E é só ruína, tudo em construção
E a vasta selva, só devastação
Não haverá então mais salvação?
Não, não, não, não, não
E a vasta selva, só devastação
Não haverá então mais salvação?
Não, não, não, não, não
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Porque não somos só intuição
Nem só pé-de-chinelo, pé no chão
Nós temos violência e perversão
Mas temos o talento e a invenção
Nem só pé-de-chinelo, pé no chão
Nós temos violência e perversão
Mas temos o talento e a invenção
Desejos de beleza em profusão
Ideias na cabeça, coração
A singeleza e a sofisticação
O choro, a bossa, o samba e o violão
Ideias na cabeça, coração
A singeleza e a sofisticação
O choro, a bossa, o samba e o violão
Ecos do ão
Mas, se nós temos planos, e eles são
O fim da fome e da difamação
Por que não pô-los logo em ação?
Tal seja agora a inauguração
O fim da fome e da difamação
Por que não pô-los logo em ação?
Tal seja agora a inauguração
Da nova nossa civilização
Tão singular igual ao nosso ão
E sejam belos, livres, luminosos
Os nossos sonhos de nação
Tão singular igual ao nosso ão
E sejam belos, livres, luminosos
Os nossos sonhos de nação
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Ecos do ão
Compositores: Carlos Aparecodp Renno / Oswaldo Lenine Macedo Pimentel
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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