26 julho 2024

ATIVIDADE - PRÉ-MODERNISMO - 2 A

 

TEXTO 01

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

1. O soneto foi construído como se o eu poético fosse um falante se dirigindo a um interlocutor.

 a) Há uma única palavra que nos passa mínima informação sobre a identidade do interlocutor. Qual é essa palavra? Que função sintática desempenha no texto?

b) Como você caracteriza o falante em relação ao interlocutor? Justifique sua resposta apontando os elementos gramaticais de que se vale o falante nos enunciados.

 2. Qual a postura do eu poético em relação à vida/ Explique.

 

TEXTO 02

O morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede ..."

— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh'alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

 

3. A que o morcego é comparado neste poema? Explique.

 4. Como no poema anterior, é possível afirmar que esse texto é dirigido a uma 2ª pessoa? Transcreva um verso que comprove sua resposta.

 5. O texto está todo centrado na utilização de uma figura de linguagem. Que figura é essa?

6. Para o poeta há alguma possibilidade de o homem fugir de sua própria consciência? Justifique com um trecho do poema.

 

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA

Primeira Parte

 A Lição de Violão Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa. Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito. A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou”. E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado. Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: “Se não era formado, para quê? Pedantismo!” O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a baixo. Eram esses os seus hábitos; ultimamente, porém, mudara um pouco; e isso provocava comentários no bairro. [...] Uma tarde de sol – sol de março, forte e implacável – aí pelas cercanias das quatro horas, as janelas de uma erma rua de São Januário povoaram-se rápida e repentinamente, de um e de outro lado. Até da casa do general vieram moças à janela! Que era? Um batalhão? Um incêndio? Nada disto: o Major Quaresma, de cabeça baixa, com pequenos passos de boi de carro, subia a rua, tendo debaixo do braço um violão impudico. É verdade que a guitarra vinha decentemente embrulhada em papel, mas o vestuário não lhe escondia inteiramente as formas. À vista de tão escandaloso fato, a consideração e o respeito que o Major Policarpo Quaresma merecia nos arredores de sua casa diminuíam um pouco. Estava perdido, maluco, diziam. Ele, porém, continuou serenamente nos seus estudos, mesmo porque não percebeu essa diminuição. Quaresma era um homem pequeno, magro, que usava pince-nez, olhava sempre baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa ou da cousa que fixava. Contudo, sempre os trazia baixos, como se se guiasse pela ponta do cavanhaque que lhe enfeitava o queixo. Vestia-se sempre de fraque, preto, azul, ou de cinza, de pano listrado, mas sempre de fraque, e era raro que não se cobrisse com uma cartola de abas curtas e muito alta, feita segundo um figurino antigo de que ele sabia com precisão a época. Quando entrou em casa, naquele dia, foi a irmã quem lhe abriu a porta, perguntando: – Janta já? – Ainda não. Espere um pouco o Ricardo que vem jantar hoje conosco. – Policarpo, você precisa tomar juízo. Um homem de idade, com posição, respeitável, como você é, andar metido com esse seresteiro, um quase capadócio – não é bonito! 8 O major descansou o chapéu-de-sol – um antigo chapéu-de-sol com a haste inteiramente de madeira, e um cabo de volta, incrustado de pequenos losangos de madrepérola – e respondeu: – Mas você está muito enganada, mana. É preconceito supor-se que todo o homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede. Nós é que temos abandonado o gênero, mas ele já esteve em honra, em Lisboa, no século passado, com o Padre Caldas que teve um auditório de fidalgas. Beckford, um inglês, muito o elogia. – Mas isso foi em outro tempo; agora... – Que tem isso, Adelaide? Convém que nós não deixemos morrer as nossas tradições, os usos genuinamente nacionais... [...] Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave e absorvente. Nada de ambições políticas ou administrativas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez pensar foi num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa.

 (Fragmento) BARRETO, Lima. O triste fim de Policarpo Quaresma. 20ª edição. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p.11-13. 11.

7.Volte ao fragmento de “Triste fim de Policarpo Quaresma” e divida o texto em 4 partes, marcando seus limites a partir da seguinte sugestão:

 a. Parte 1: a descrição da rotina/hábitos do Major Quaresma (apresentação).

b. Parte 2: a mudança de hábito do Major Quaresma (“conflito” do fragmento – quebra da rotina).

 c. Parte 3: as características físicas do personagem Major Quaresma (perfil físico do personagem).

d. Parte 4: as características da personalidade do Major Quaresma (perfil psicológico do personagem).

8. Leia agora a letra do samba enredo do GRES Unidos da Tijuca, de 1982, quando a terceira escola de samba mais antiga do país, situada no morro do Borel, homenageou o escritor Lima Barreto

Lima Barreto - Mulato, Pobre, Mas Livre

Adriano

Vamos recordar Lima Barreto

Mulato pobre, jornalista e escritor

Figura destacada do romance social

Que hoje laureamos neste carnaval

O mestiço que nasceu nesta cidade

Traz tanta saudade em nossos corações

Seus pensamentos, seus livros

Suas ideias liberais

Impressionante brado de amor pelos humildes

Lutou contra a pobreza e a discriminação

Admirável criador, ô ô ô ô

De personagens imortais

Mesmo sendo excelente escritor

Inocente, Barreto não sabia

Que o talento banhado pela cor

Não pisava o chão da Academia

Vencido pela dor de uma tragédia

Que cobria de tristeza a sua vida

Entregou-se à bebida

Aumentando o seu sofrer

Sem amor, sem carinho

Esquecido morreu na solidão (bis)

Lima Barreto

Este seu povo quer falar só de você (bis)

A sua vida, sua obra é o nosso enredo

E agora canta em louvor e gratidão

a. Observe os seguintes versos: “Mesmo sendo excelente escritor / Inocente, Barreto não sabia? Que o talento banhado pela cor / Não pisava o chão da Academia”

b.A que Academia se refere o texto?

c.O que esses versos sugerem quanto à seleção dos escritores para a Academia?

 d. “Seus pensamentos, seus livros / Suas ideias liberais / Impressionante brado de amor pelos humildes”. O que esses versos revelam em relação à obra deste renomado escritor.

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